segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vou falar de amor

Sabe, eu não suportava Arnaldo Jabor, me negava a ler as suas crônicas, mais sabe por quê? Porque ele fala a verdade, aquela verdade que nos negamos a enxergar quando estamos cegos de paixão, ilusão ou doentesssss...


Hoje leio sempre....e recomendo, o texto a seguir é maravilhoso...assim como os inumemos que ele tem:


Vou falar de amor

"Vou falar de amor, mas não vou falar sobre ursinhos de

pelúcia nem sobre bombons. O momento é ideal para falar de sacanagem.

Se dei a impressão de que o assunto será , ménages à trois, sexo selvagem e práticas perversas, sinto muito desiludi-lo(a). Pretendo, sim,

falar das sacanagens que fizeram com a gente.



Fizeram a gente acreditar que o amor mesmo, amor pra valer, só

acontece uma vez, geralmente antes do 30 anos. Não contaram pra nós

que o amor não é racionado, nem chega com hora marcada.



Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja,

e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade.

Não contaram que nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece

carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a

gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, só

é mais rápido.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada " dois em um ",

duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava.

Nâo nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos

com personalidade própria que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que o casamento era obrigatório e que

desejos fora de hora devem ser reprimidos.

Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais

amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito

não são confiáveis, e que sempre deve haver um chinelo velho para um pé

torto.



Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm seu valor, já que não

nos machucam, e que existem mais cabeças tortas do que pés. Fizeram a

gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos,

e os que escapam dela estão condenados à marginalidade.

Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustam as pessoas,

são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos

convencionais.

Sexo não é sacanagem. Sexo é uma coisa natural, simples - só é

ruim quando feito sem vontade. Sacanagem é outra coisa. É nos

condicionarem a um amor cheio de regras e princípios, sem ter o direito

à leveza e ao prazer que nos proporcionam as coisas escolhidas por nós

mesmos."



Arnaldo Jabor

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